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Os impactos da adultização na vida de crianças negras

Atualizado: 22 de ago.

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Por Laura Beatriz


Commbne, 19 de agosto de 2025 -O recente vídeo publicado pelo criador de conteúdo Felca escancarou algo que há muito tempo precisa ser dito: as redes sociais falham em proteger as crianças. Mas o problema é ainda mais profundo e não se limita à internet. Ele está enraizado em uma prática antiga, estrutural e naturalizada: a adultização da infância, um processo social que afeta de forma ainda mais dura as crianças negras no Brasil.


O que é adultização?


A adultização é a imposição de responsabilidades, exploração ou até mesmo da sexualização precoce a crianças, como se fossem adultos em miniatura. Esse fenômeno nega o direito ao brincar, ao estudo, ao erro, ao cuidado e ao desenvolvimento pleno. Na prática, significa exigir maturidade antes do tempo e retirar delas a possibilidade de viver uma infância digna.


No caso das crianças negras, esse processo é agravado pelo racismo estrutural e pela pobreza. Estudos mostram que crianças negras são vistas pela sociedade como “mais maduras” e “menos inocentes” que crianças brancas da mesma idade — percepção que legitima violências, desde a exploração no trabalho até a responsabilização precoce em ambientes familiares e escolares.


O roubo silencioso da infância


A adultização da infância é uma violência naturalizada, mas que deixa marcas profundas. Quando meninas e meninos negros são obrigados a assumir responsabilidades precoces, carregam sobre os ombros fardos que não deveriam ser seus: cuidar de irmãos, ajudar na renda familiar, enfrentar violências racistas sem acolhimento.


Nesse cenário, o espaço do brincar se estreita, os sonhos são interrompidos e o aprendizado escolar se torna frágil. O resultado é um ciclo de vulnerabilidades que se prolonga na vida adulta: quadros de ansiedade, depressão, abandono escolar, precarização no trabalho e a dor permanente de não ter vivido plenamente a própria infância.


Racismo, pobreza e exploração


No Brasil, a adultização está diretamente ligada à pobreza e ao racismo estrutural. Os dados são alarmantes:





Esses números revelam que não se trata de escolhas individuais ou de exceções, mas de uma engrenagem social que insiste em retirar da infância negra o direito de existir com dignidade.


O papel das leis e da regulação


O Brasil já possui marcos importantes de proteção à infância, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Constituição Federal, que garantem o direito à vida, ao desenvolvimento e à proteção contra qualquer forma de violência. Mas esses instrumentos ainda não alcançam plenamente o mundo digital, onde novas violências acontecem de maneira acelerada.


A ausência de regulação das redes sociais cria um vácuo perigoso: crianças seguem expostas à exploração sexual, à coleta abusiva de dados, ao assédio e ao racismo, enquanto as plataformas lucram sem assumir responsabilidade.


Nesse contexto, avança no Congresso o debate sobre o chamado ECA Digital, projeto de lei que obriga as plataformas a adotar mecanismos de proteção efetivos contra crimes e abusos envolvendo crianças. Já aprovado no Senado, o texto enfrenta resistência na Câmara dos Deputados. Sua aprovação pode ser um marco histórico, garantindo que as leis do mundo offline também se apliquem ao ambiente digital.


Sem essa regulação, a internet permanece como um território sem lei, onde a infância é tratada como corpo explorável e descartável.


Caminhos de resistência


Mais do que uma denúncia, este debate é um chamado à ação. A luta contra a adultização é, em última instância, a luta pelo direito ao sonho, ao riso, à brincadeira, à imaginação. É garantir que meninas e meninos negros possam viver plenamente o tempo da infância sem que ela lhes seja roubada pela pressa cruel de um mundo que insiste em não protegê-los.


A luta contra a adultização é, em última instância, a luta pelo direito ao sonho, ao riso, à brincadeira e ao tempo de ser criança. Porque defender a infância negra é defender o futuro, e o futuro só floresce quando o presente permite que as crianças sejam, de fato, crianças.


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