Prêmio Jacira da Silva celebra o protagonismo negro no jornalismo
- COMMBNE

- 10 de mai.
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Atualizado: 16 de jul.
Primeira edição da premiação, realizada durante o Festival Latinidades 2024, homenageou jornalistas negras e mídias independentes comprometidas com a luta por igualdade racial

Brasília (DF) Commbne - A comunicação como instrumento de transformação social foi o centro das atenções na estreia do Prêmio Jacira Silva, realizado em 2024 durante a 17ª edição do Festival Latinidades, no Museu Nacional da República, em Brasília. Criado pelo Instituto Commbne, em parceria com o Instituto Afrolatinas e com apoio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o prêmio celebrou a trajetória de jornalistas negras e veículos de mídia negra que têm contribuído de forma expressiva para a construção de uma imprensa antirracista e comprometida com os direitos humanos no Brasil.
A cerimônia marcou não apenas o encerramento do festival, considerado o maior evento de mulheres negras da América Latina, como também a abertura de uma nova página na valorização da comunicação negra no país. Ao homenagear profissionais que atuam na linha de frente da produção de narrativas diversas e representativas, o prêmio afirma a importância da memória, da ancestralidade e do engajamento político como fundamentos do jornalismo negro.
Homenagem a uma pioneira
Nomeado em homenagem à jornalista Jacira Silva, de 73 anos, o prêmio reconhece uma das pioneiras na luta por equidade racial no jornalismo brasileiro. Jacira foi a primeira mulher negra a presidir o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (1995–1998), além de fundar a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira/DF). Atualmente, ela ocupa a Diretoria de Condições de Trabalho e Qualidade de Vida da entidade.

Jacira emocionou o público ao subir ao palco para receber a homenagem que leva seu nome. “Emoção, emoção, emoção. Muita alegria, estou lisonjeada, honrada por ser respeitada, por ser homenageada pela profissão, por esta escolha de projeto de vida, de projeto político que não é meu, é nosso, descendentes de africanos e de africanas”, declarou.
“Jacira abriu caminhos quando não havia trilhas. Hoje, reconhecê-la em vida, dando seu nome a um prêmio que celebra outras mulheres negras no jornalismo, é um gesto de responsabilidade histórica”, destaca Midiã Noelle, diretora geral do Instituto Commbne.
A homenagem à veterana do jornalismo também contou com um tributo especial do Coletivo de Mulheres Negras Baobá, de Brasília, reconhecendo sua contribuição histórica para a democratização da comunicação no país.
Mulheres que moldam a narrativa
Na categoria “Jornalistas Negras”, foram premiadas três nomes de destaque na imprensa nacional: Juliana Cézar Nunes, gerente da Agência Brasil (EBC); Basília Rodrigues, da CNN Brasil; e Maju Coutinho, da TV Globo. Maju não pôde comparecer à cerimônia, mas enviou um vídeo de agradecimento. Cada uma representa, com trajetórias distintas, o compromisso com uma comunicação ética, plural e ancorada nas realidades da população negra brasileira.
Juliana Cézar Nunes, gerente da EBCl, destacou o simbolismo do reconhecimento em um festival voltado às mulheres negras. “Ser homenageada neste espaço é um retorno às origens. Nossa profissão tem um papel fundamental na construção de um país mais justo, e o jornalismo negro é central nesse processo.”
Já Basília Rodrigues, conhecida por sua atuação incisiva na cobertura política, destacou a responsabilidade de estar entre as vozes premiadas. “Receber esse prêmio é um chamado à continuidade. A gente não pode parar de fazer o que faz, porque há muitas outras que vêm depois de nós.”
Visibilidade às mídias negras
A categoria “Mídias Negras” destacou coletivos e veículos comprometidos com a produção de conteúdo que enfrenta o racismo estrutural e valoriza as vivências negras. Foram homenageadas: Revista Afirmativa, Alma Preta, Cultne, Mundo Negro e Africanize.
“É muito relevante a criação de um prêmio que homenageia profissionais negros do jornalismo que dedicam suas carreiras políticas, suas vidas, em prol da constituição de narrativas de direitos para a população negra”, destaco Jéssica Santos, diretora administrativo-financeira de Commbne.
O Prêmio Jacira Silva nasce como parte do compromisso do Instituto Commbne com a justiça racial por meio da comunicação. Ao valorizar trajetórias negras no jornalismo, o prêmio se coloca como uma ferramenta de memória, reparação e afirmação.
Mais do que uma cerimônia, a primeira edição simboliza um gesto político e afetivo: reconhecer que há muito tempo as mulheres negras vêm escrevendo – com coragem, ética e excelência – as páginas que faltavam na história da imprensa brasileira.









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